Aula 03: A Retomada ou a Antecipação de Termos

03/09/2014 14:45

Observe o trecho que segue:

 

José e Renato, apesar de serem gêmeos, são muito diferentes. Por exemplo, este é calmo, aquele é explosivo.

 

O termo este retoma o nome próprio ________________, enquanto aquele faz a mesma coisa com a palavra ______________. “Este” e “aquele” são chamados anafóricos.

 

Anafórico, genericamente, pode ser definido como uma palavra ou expressão que serve para retomar um termo já expresso no texto, ou também para antecipar termos que virão depois. São anafóricos, por exemplo, os pronomes demonstrativos (este, esse, aquele), os pronomes relativos (que, o qual, onde, cujo), advérbios e expressões adverbiais (então, dessa feita, acima, atrás), etc.

 

Quando um elemento anafórico está empregado num contexto tal que pode referir-se a dois termos antecedentes distintos, isso provoca ambigüidade e constitui uma ruptura de coesão. Na escrita, é preciso tomar cuidado para que o leitor perceba claramente a que termo se refere o elemento anafórico.

 

Ambiguidade

 

Eis alguns exemplos de ambiguidade por causa do uso dos anafóricos:

 

O PT entrou em desacordo com o PMDB por causa de sua

proposta de aumento de salário.

 

No caso, sua pode estar se referindo à proposta do PT ou à do PMDB.

 

Para desfazer a ambiguidade...

 

A proposta de aumento de salário formulada pelo PT

provocou desacordo com o PMDB.

 

O uso do pronome relativo pode também provocar ambigüidade, como na frase que segue:

 

Via ao longe o sol e a floresta, que tingia a paisagem com suas variadas cores.

 

No caso, o pronome que pode estar se referindo a sol ou a floresta.

 

Há frases das redações escolares em que simplesmente não há coesão nenhuma. É o que ocorre nesta frase, citada pela Profa. Maria Tereza Fraga no seu livro sobre redação no vestibular:

 

Encontrei apenas belas palavras o qual não

duvido da sinceridade de quem as escreveu.

 

Como se vê, o enunciado fica desconexo porque o pronome o qual não recupera antecedente algum.

 

Vejamos, a título de exemplos, as relações que alguns elementos de coesão estabelecem:

 

assim, desse modo: têm um valor exemplificativo e complementar. A seqüência introduzida por eles serve normalmente para explicitar, confirmar ou ilustrar o que se disse antes.

E: liga dois atributos que ocorre simultaneamente.

 

Ainda: serve, entre outras coisas, para introduzir mais um argumento a favor de determinada concusão, ou para incluir um elemento a mais dentro de um conjunto qualquer.

Aliás, além do mais, além de tudo, além disso: introduzem um argumento decisivo, apresentado como acréscimo, como se fosse desnecessário, justamente para dar o golpe final no argumento contrário.

 

Isto é, quer dizer, ou seja, em outras palavras: introduzem esclarecimentos, refificações ou desenvolvimentos do que foi dito anteriormente.

 

Mas, porém, contudo e outros conectivos adversários: marcam oposição entre dois enunciados ou dois segmentos do texto. Não podem ligar, com esses relatores, segmentos que não se opõem. Ás vezes, a oposição se faz entre significados implícitos no texto.

 

Embora, ainda que, mesmo que: são relatores que estabelecem ao mesmo tempo uma relação de contradição e de concessão. Servem para admitir um dado contrário para depois negar seu valor de argumento. Trata-se de um expediente de argumentação muito vigoroso: sem negar as possíveis objeções, afirma-se um ponto de vista contrário.

 

Tão...como: é um marcador de comparação (advérbio de comparação).

Certos elementos de coesão servem para estabelecer gradação entre os componentes de uma certa escala. Alguns, como mesmo, até, até mesmo, situam alguma coisa no topo da escala: outros como ao menos, pelo menos, no mínimo, situam-se no plano mais baixo.

 

Já que: introduz uma justificativa para o que se disse na oração anterior.

 

Isto é: introduz uma explicação a respeito do que é...

 

Sem que: indica a exclusão de um fato que poderia constiuir um argumento contrário ao que se afirmou anteriormente

 

Ou: marca uma relação de alternância (e/ou): todos os elementos podem ocorrer, embora não simultaneamente.

 

Tudo isso: é um anafórico e um afirmador de totalidade universal. Retoma os elementos citados no contexto imediatamente anterior.